sexta-feira, 13 de julho de 2012


O tal CAFÉ !!!


- Minha querida amiga, tenho andado com grande peso na consciência de não ter tido oportunidade de me despedir de ti como gostaria, mas chego à conclusão que nem eu, nem tu, seriamos suficientemente fortes para isso, e como tu me disseste na nossa ultima conversa telefónica, preferias que eu te recordasse como sempre te conheci. Mas sabes, nestas situações, acho  que ainda que aqueles que amamos estejam bem diferentes e marcados pela doença, a imagem é sempre a que temos no coração, isso já aconteceu com um amigo comum, que estava bastante transfigurado, mas aos meus olhos era exactamente o mesmo.
- Ainda me lembro, no inicio dos anos 80, quando nos encontramos pela primeira vez, trazias a tua filha na infância, e a minha era mesmo recém nascida, aí, começou uma relação entre nós, que só mesmo a partida de uma poderia afastar-nos, poderia ter sido eu, mas tu partiste e eu fiquei por aqui.....ainda.
- E nem chegamos a ir beber o tal CAFÉ, por aqui!!!
- Ainda tenho na minha memória, o barulho dos travões do teu velho citroen diane, castanho, que começou a parar à porta da minha loja, todos os dias depois das 17,00 h, ainda me recordo dos muitos petiscos de conservas de sardinhas, que partilhávamos ao jantar, assim como aquelas carradas de telefonemas anónimos que fazíamos a conhecidos e amigos, do telefone fixo da minha casa, nas longas noites de inverno, riamo-nos de tudo e de nada, bons tempos que passamos juntas.
- Recordo-me os teus dias complicados pela doença e morte da tua mãe há muitos anos e bem mais recente, do teu pai também, fui muitas vezes o teu ombro, e outras tantas, tu o meu.
Ainda me lembro o que aconteceu no dia, em que me contaste que tinhas perdido um filho!!!
- As nossas conversas ficavam sempre a meio, nunca conseguimos acabar os nossos assuntos, tínhamos sempre mais alguma coisa a dizer. Os amigos são assim, quando são verdadeiros, são cúmplices, e queremos falar sempre tudo, mesmo em pouco tempo. 
- Passamos muitas coisas boas, mas também muitas sofridas, estavas sempre pronta para tudo o que te pedisse, eras incapaz de dizer não fosse ao que fosse.
- A vida põe no nosso caminho certas presenças de amigos, que se tornam indispensáveis ao nosso dia a dia, fazem parte do nosso percurso de vida, como seres humanos, para depois, com toda a brutalidade nos retirar fisicamente essas presenças, e deixar-nos desmembrados, perplexos,  e ao mesmo tempo, avivarmos a nossa consciência de que estamos aqui apenas de passagem, e que nesta passagem deveríamos aproveitá-la
da melhor forma possível com aqueles que amamos, e sobretudo, fazê-los sentir o quão imensa é a nossa partilha de emoções e afectos, neste caso concreto, eu sei, mas tenho a certeza, que tu também sabias, ainda nos chamamos de  "amor" uma da outra, algumas vezes, talvez por brincadeira, mas isso hoje, tem um peso enorme, e ainda bem que assim foi.
- Um dia, quando nos voltarmos a encontrar, vou querer levar aquele cachecol que me fizeste no teu crochet primordial, assim como aquela pulseira trabalhada de estanho que me ofereceste no dia do meu aniversário, certamente terás no teu regaço, um ramo de gerberas cor de rosa, iguais àquelas que fazias questão de me comprar.
- Entretanto, vou pensando em ti, já tenho uma saudade imensa, mas como tu dizias há alguns meses atrás: " um dia temos que marcar, para beber um café!!!" que acabou por não acontecer, mas nunca me esqueci desse compromisso, por isso, o nosso café, continua de pé !!!
- Quando chegar a altura......certamente te telefonarei e te direi: Alice, estou pronta para   beber contigo o nosso café!!!!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

VIAJEM

- Um dia, vou fazer aquela viajem que só o tempo me proporcionará, com vagar, muito vagar para poder percorrer todos os destinos, que em sonhos me transporto.
- Sairei de manhãzinha, logo antes do nascer da aurora, enquanto todos dormem, a rua é só minha, assim como todos os destinos a que ela me levará. Hei-de seguir estrada fora, percorrendo todos os recantos que em sonhos me prometi conhecer.
Subirei montanhas, plenas de vegetação, onde por entre os cerrados ramos das árvores, consiga vislumbrar os primeiros raios solares, cruzando um céu brilhante de anil, onde as estrelas pequenas já se esconderam, para dar lugar à sua estrela maior, onde o chilrear dos pardais, seja musica para os meus ouvidos, e o pequeno riacho que vejo nascer a meus pés, se transforme num imenso e extenso leito, onde nas suas margens, possam nascer flores de todas as cores, e onde logicamente poderei encontrar, um pé enorme de malmequer branco e amarelo, igualzinho àquele que a minha mãe plantou na casa da minha a avó, quando eu era criança, que embora já não exista, perdura na minha memória.
- Hei-de encontrar velhas azinheiras, carregadas de história, assim como um frondoso castanheiro, que em sonhos plantei, mas por falta de tempo, deixei-o ao abandono.
- Percorrerei pradarias e prados verdejantes, onde poderei sentir o fresco da erva molhada do orvalho, onde manadas de gado pastam em busca da sobrevivência, ao mesmo tempo que continue a ouvir o chilrear dos pardais e o soluçar do riacho nas pedras, percorrendo quilómetros até encontrar um mar imenso que o acolherá, e ao mesmo tempo o alunará, perante tamanha grandeza.
- Um dia quando eu for fazer esta viajem, irei sozinha, para poder percorrer todo o caminho sem atropelos, ou contradições, não levarei bagagem ou almofada, pernoitarei debaixo do tal castanheiro que plantei não sei onde, e que por falta de tempo não tratei dele, mas sei que que está enorme, cansado e velho, hei-de reconhecê-lo à distancia, será certamente um lugar seguro para me abrigar das possíveis intempéries, que se possam cruzar no meu caminho.

Os POBRES de ESPÍRITO!!!

A Fé move montanhas!!!
- Um homem desacreditado, é um infeliz e um pobre!!!
Nada nem ninguém consegue sobreviver, sem o estimulo da confiança e de fé em si próprio.
- A maior pobreza do ser humano é realmente a falta de objectivos de vida, e a sua entrega a uma vida sem projectos, ou motivações,mas sobretudo, sem partilha, para ele, nada é além do próprio nada.
Entristece-me pessoas que vivem limitadas ao seu pequeno mundinho, e alheias ao dia a dia, e às situações que as rodeiam, vivendo fechadas em redomas, onde não entra o sol, nem o aroma da terra e das flores, refiro-me como é óbvio às relações humanas. O sol e os aromas, não serão mais nem menos que os sorrisos, os contactos, os mimos e os abraços.
Ser pobre de espírito, é ser triste, é estar sozinho, é afastar amigos ou familiares, simplesmente, porque a sua forma de estar na vida, não lhe permite abrir o coração, e dar, dar de uma forma tão pratica, que chega a ser banal para uma pessoa de coração aberto, mas o pobre de espírito, não tem capacidade de dar nem partilhar. Normalmente vive e acaba sozinho a um canto, escuro, sombrio e frio, como assim, permaneceu ao longo da sua vida vazia de afectos.
- Nesta altura da minha vida, dedico-me de corpo e alma a uma Associação Humanitária, voluntariamente, sem remuneração monetária, mas não imaginam o prazer que isso me dá, recebo, mimos, sorrisos e respeito. Partilho emoções diárias  de entreajuda, sem nenhuma espécie de interesse, que não seja ajudar, e  dar e receber sorrisos, diálogos, convívio, enfim.....aquelas coisas que faço questão que ocupem os meus dias, e me sinta útil junto dos outros, ninguém consegue ser feliz sozinho,  estar fechado em redomas nunca foi minha intenção.
- Nunca me faltou o pão na mesa, nasci de uma família pobre de valores, mas muito rica em afectos e emoções! E são estes afectos e estas emoções que procuro manter.
- A pobreza de espírito assusta-me, sobretudo pela miséria humana em que vive um homem vazio, nada é tão constrangedor, como um humano sem  de humildade, vivendo na arrogância da sua  hipotética grandeza, que aos olhos dos humildes não passa desapercebido.
- A fé na vida, e em nós próprios, é a principal ajuda ao desenvolvimento de uma mente saudável e vencedora, um homem sem fé em si próprio, ou nos seus ideais, é um homem desacreditado e morto.
- Coitados dos que pensam que são grandes no mundo, e não percebem a pequenez que somos, perante um universo grandioso, embora cada um de nós possa crescer interiormente até onde a sua capacidade e humildade de partilha nos deixar ir.
- Ser grande em si próprio, é uma virtude apenas de alguns, embora nunca o consigamos sozinhos!
- Pensar que se é mais, ou maior que os outros é uma crença dos não humildes, todo o pobre de espírito menospreza  o outro para se gloriar, mas isso acontece apenas porque ele é mesmo muito pobre!!!