SITIO de RASMALHO - PORTIMÃO
Aqui situava-se a casa dos meus avós maternos
Hoje dei comigo a recordar-me dos domingos de verão da minha infância.
-De manhãzinha, ainda com o fresco do nascer da aurora, lá embarcávamos na viatura do meu pai, a celebre carroça pintada de cores bem coloridas, com pormenores de tracejado, puxada por uma mula, que de tão bem alimentada, quase não cabia nos varais, sendo isso era grande motivo de orgulho para o meu pai.
- Partíamos da nossa morada de família com destino à casa dos meus avós maternos, no sitio do Rasmalho, com a carroça bem apetrechada de iguarias para o repasto de toda a família, recordo-me perfeitamente do popular arroz de frango, que a minha cozinhava de uma forma muito simples, mas que tinha um sabor difícil de igualar, e que eu ainda hoje não esqueço, um garrafão de vinho tinto, uma gasosa de 1.5l, assim como uma enorme melancia que era colocada dentro da ribeira para refrescar, os meus avós não tinha frigorífico, pois não tinham acesso a luz eléctrica.
- O meu avó Manuel Filipe, homem de estatura baixa e calvo aguardava-nos logo ao passar do ribeiro, porque o meu pai não passava com a carroça para a outra margem.
- Soltava a mula, e passávamos todos a ribeira pondo os pés em cima de pedras que faziam de passadeira que nos davam acesso ao lado onde se situava a velha casa dos meus avós, a mula essa pela rédea, molhava as patas até aos joelhos.
- Ao chegar à casa, no cimo do monte mais baixo, a minha doce avó Ana da Conceição, aguardava-nos com um sorriso, o mesmo carinho de sempre e claro.....aquele abraço.
- O meu pai, aproveitava para ajudar um pouco o meu avó no campo, em alguns serviços que ele já teria dificuldade em executar, recordo-me perfeitamente de ele lavrar a terra com um velho arado tipo charrua, a minha mãe e a minha avó ficavam em casa à conversa e a finalizar algum preparativo para o almoço que iriam juntar ao farnel que a minha mãe já levava confecionado.
- Eu, bem pequena, talvez com 4 anos deliciava-me a correr pelo barranco, a apanhar pequenas flores silvestres e malmequeres, em frente à casa havia um malmequer enorme, branco e amarelo que a minha mãe havia plantado antes de eu nascer, segundo me contou.
- Recordo com saudade a parte de traz da casa, onde existia uma velha pocilga e uma grande azinheira, onde eu me podia deliciar com as bolotas cruas, bolotas essas, que a minha avó tambem enviava numa linha, de forma a fazer colares, e pendurava na parede junto ao sitio onde fazia lume no chão, essas ficavam uma delicia, pareciam torradas.
- À hora marcada, por volta do meio dia, sentavamos para o almoço de familia, e convivio desejado.
- Após o almoço o meu pai muitas vezes se deitava sobre o poial que existia junto à parede da frente da casa e dormia muitas vezes uma cesta merecida.
- Ao fim da tarde, estava na hora de pôr os arreios na mula e atrelar de novo a carroça, para fazer a viagem de regresso a casa.
- Depois de passar de novo a ribeira, os meus avós ficavam tristes na outra margem, acenando de mãos no ar e desejando uma boa viagem, assim como agradecendo o Domingo em Familia.
Ps - Os meu avô, faleceu aos meus 6 anos de vida e a minha avó aos meus 8.
- Os meus avós paternos, Inácio Duarte e Maria de São José, nunca os cheguei a conhecer, quando nasci, já eram falecidos.
A nossa vida é feita de "MEMÓRIAS"!
"MEMÓRIAS" são momentos que vivemos, e na altura não lhes damos grande importancia, mas a nossa mente registou e guardou-os tão bem ao longo dos anos, que em certos dias presentes, continuam a ser "MEMÓRIAS" VIVAS, como estas que tive hoje!