-Tenho uns amigos muito queridos, que são a Inês e o Luís. São jovens e artesãos nos tempos livres, fazem peças maravilhosas em sabonete, de todas as cores e modelos, conforme a sua imaginação o permite, e fazem feiras semanais nos arredores de Lisboa, onde vendem os seus frágeis, lindos e perfumados objectos.
- Alguns anos atras, ofereceram-me um magnifico cacho de uvas brancas, feito pelas suas habilidosas mãos, adorei, achei lindo, a peça em si, mas sobretudo o facto de ter sido feita por eles próprios, com a finalidade de me vir a ser ofertada.
- Guardei-a com recato e carinho, como é meu hábito com tudo o que me dão, independente do valor material, na maior parte das vezes, as coisas simples são sempre as mais valiosas aos meus sentidos, talvez por isso a minha filha Ana me esteja constantemente a dizer que eu acomulo muita "tralha", mas ela bem sabe que cada peça dessa "tralha" tem uma história para mim, e todas as peças em conjunto fazem parte do meu espólio de vida, são realmente minhas.
-Hoje foi um diazinho complicado, foi um dia de "MEMÓRIAS" vividas, sentidas e lembradas. Uma grande amiga minha que considero há várias décadas como minha própria irmã, comemorou mais um ano de vida, e isso foi motivo para me deslocar a sua casa, onde ela ofereceu uma pequena festa apenas a amigas muito chegadas e especiais, mas durante todo o momento de confraternização eu estive sempre com um nó na garganta e as lágrimas a teimarem trair a minha postura, os meus olhos encontraram o famoso CACHO de UVAS BRANCAS de SABONETE, sobre o movel da sua sala de jantar.
- Sempre ouvi dizer que quando se ama muito uma pessoa, e que por algum motivo, ou data festiva lhe queremos ofertar algo de muito especial, não deveremos comprar nada, mas oferecer sim, algo que tenhamos, que nos tenham oferecido, e que muito gostamos, mas apesar disso e por isso mesmo, devemos oferecer a alguém especial, aquilo que é muito especial para nós.
- Entendo por isto, que não nos separamos do objecto, mas atribuimos-lhe um valor incalculável, com a plena certeza que vai sair da minha posse, mas vai continuar na posse daquele que tanto amo, e quero demonstrar-lhe isso mesmo.
- E foi essa actitude que tive no dia que a minha Aninhas e o meu Zézé, fizeram 25 anos de casados, as chamadas "bodas de prata". Ela foi presenteada com um ramo de 25 rosas vermelhas, a ele....bem a ele, resolvi oferecer-lhe o tal CACHO de UVAS BRANCAS de SABONETE, feito pela mãos da Inês e do Luís. Achei que além do valor que tinha para mim, adaptava-se perfeitamente à data, tinha a haver com uvas, com vinho, com festa.
- Ele ficou feliz, e como sempre sorriu, como só ele sabia sorrir, tenho comigo uma foto desse momento inesquecivel, ela com as rosas, e ele com a prenda na mão sorrindo.
- O Zézé, já não se encontra entre nós, partiu em 13 de Dezembro de 2009.
- Desde que lhe ofereci o presente, muita coisa se alterou nas nossas vidas, eu sofri, ele partiu, mas o CACHO de UVAS PERFUMADAS continua lindo, intacto sobre o móvel da sua sala de jantar, onde ele o colocou, mas já não o pode ver, mas sei que ele sabe, que ele permanece lá, e que eu ao vê-lo, não poderia ficar indiferente a muitas "MEMÓRIAS", de amor, carinho, amizade, gratidão e sobretudo saudade e falta.
- É o pequeno grande sentido, das pequenas grandes coisas, e das pequenas grandes actitudes, que dão sentido à nossa VIDA!
:(((
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